Grafite: Arte x Vandalismo
Soa um tanto ofensiva a indagação
que dá título a esse texto. Onde já se viu, em pleno século XXI, alguém
confundir a arte do grafite com vandalismo? No entanto, infelizmente há, em
dias atuais, pessoas que consideram o grafite como vandalismo, pichação, coisa
de quem não tem o que fazer e por aí vai. Mesmo avançando e ganhando cada vez
mais destaques nos muros das grandes metrópoles, a arte do Grafite tem muito a
conquistar e a transformar na sociedade brasileira como um todo e
principalmente no que diz respeito às autoridades do poder executivo, que é quem
mais tem mostrado resistência e uma dose significativa de preconceito
alicerçado na concepção equivocada de que o Grafite seja vandalismo/pichação.
A Lei Federal nº 9.605 de 12
fevereiro de 1998, que dispõe sobre os crimes contra o Ordenamento Público e o
Patrimônio Cultural diz no Art.65 que é crime “pichar e por outro meio
conspurcar edificação ou monumento urbano sob pena – detenção, de 3 (três)
meses a 1 (um) ano de detenção e multa”.
Esta mesma lei classificava o grafite como crime e tinha as mesmas
penalidades do crime de pichação. No entanto, a lei foi alterada em 2011 e a alteração
vem no segundo parágrafo do Art.65 que diz que “Não constitui crime a prática
de grafite realizada com o objetivo de valorizar o patrimônio público ou
privado mediante manifestação artística, desde que consentida pelo proprietário
e, quando couber, pelo locatário ou arrendatário do bem privado e, no caso de
bem público, com a autorização órgão competente”.
Desde então, a arte do Grafite
não é mais considerada crime, todavia, a descriminalização do grafite não foi
suficientemente eficaz para descontruir intolerâncias e preconceitos de parte
significativa da sociedade, que ainda considera crime ou vandalismo a arte de
grafitar.
Quem não se lembra da grande
repercussão na mídia do caso envolvendo o prefeito de São Paulo, João Dória, no
ano passado? Pois bem, o prefeito de São Paulo na ocasião ordenou que fossem
apagados os murais da Avenida 23 de Maio, que continham desenhos que foram
pintados por aproximadamente 200 grafiteiros no ano de 2015. Os desenhos
chegaram a ser considerados o “maior mural de grafites a céu aberto da América
Latina”. Os desenhos foram apagados e a gestão decidiu por permanecer com apenas
8 desses desenhos sob a alegação de que os demais estavam danificados. No lugar
das pinturas foram jogadas tintas cinzas. Os idealizadores e autores dos
desenhos não ficaram satisfeitos com a atitude do prefeito. Manifestações e
protestos aconteceram na época contra a decisão de Dória, porém, o mesmo se
mostrou irredutível em sua escolha.
Para o Sociólogo Francisco
Gomes, da Universidade Federal de Roraima, o grafite, além de ser uma expressão
artística que preenche os muros de concreto dos espaços urbanos, pode ser compreendido
para além do viés artístico que o idealiza, ou seja, configura-se como uma
manifestação política, social e cultural de um grupo social ou segmento
político da sociedade envolvente. “A sociedade enquanto espaço de político de
luta é a área de atuação de onde emerge, se desenvolve e se consolida a arte
por meio do grafite. O grafite tem essa relação de amor e ódio com a sociedade,
no entanto, essa manifestação artística apresenta-se como uma espécie de
salvação para vários jovens provenientes de famílias de baixa renda, inclusive
como forma de ascensão social” pontuou o sociólogo.
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